“…A eficiência da arte é muito mais antiga do que o propósito; a mão é uma descobridora há mais tempo do que o cérebro (Basta observar uma criança desfazendo um nó: ela não pensa, limita-se a experimentar. Só paulatinamente, a partir da experiência das mãos, é que vem a compreensão de como se fez o nó e do melhor modo de desfazê-lo)…"
Ernst Fischer
Desde sempre, a arte acena por um mundo mais humano, sendo encarregada também de contar histórias, transformar nosso cotidiano em magia, ou causar inquietação propícia para a transformação dos nossos problemas e movimento de análise crítica para pensarmos em suas soluções. Não somente restrita a um simples hobby, a arte pode renovar nosso estado psíquico e mental, como terapia ocupacional.
Neste contexto, surge a arteterapia, um ramo da psicoterapia que começou a ser incentivado pelo médico alemão Johann Christian Reil, contemporâneo de Phillipe Pinel. Carl Jung foi outro profissional que passou a trabalhar com arte em forma de atividade criativa integradora da personalidade. Atualmente, esta modalidade lúdica de terapia ocupacional possui teorias próprias e é aplicada por profissionais habilitados com mestrado e especializações.
A arteterapia pode ser trabalhada em várias modalidades artísticas, como: pintura, desenho, modelagem, escultura, poesia, dança, canto. Consiste em usar a criatividade de seus pacientes, por recursos expressivos ou artísticos/visuais como processo investigativo analítico, revendo conteúdos psíquicos do individuo, levando-o a compreender e verbalizar suas questões pessoais do paciente, quando há dificuldade de verbalização, sendo elucidada pela simbologia de sua arte. De um outro modo, a expressão artística pode ser explorada com fim em si mesma, como um processo de criatividade, formas de expressão apenas como elemento terapêutico, focado no fazer, criar, realizar uma obra de arte. Cabe ao paciente/artista/cliente interpretar suas criações, enquanto o arteterapeuta o orienta, apenas instigando suas questões. Neste caso, o processo não é mais duplo (paciente/processo criativo) e sim, triangular (paciente/processo criativo/terapeuta).
No Brasil, dentre as mais importantes, temos casos de pacientes e arteterapeutas brasileiros com relevante destaque em nossa história, como o paciente Arthur Bispo do Rosário, que foi diagnosticado com esquizofrenia, tendo ficado por quase 50 anos internado no Hospital Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro, instituição que abrigava doentes psiquiátricos, alcoólatras e todos os tipos pessoas marginalizadas pela sociedade. Bispo do Rosário trabalhou com bordados em mantos e estandartes, na escrita criava frases construindo discursos e utilizou em suas obras objetos do cotidiano, sendo estas comparadas tão contemporâneas como as de Marcel Duchamp.
Dra. Nise da Silveira, (1905-1999), renomada médica psiquiatra, desenvolveu seu trabalho no Hospital Engenho de Dentro no Rio de Janeiro implantando, (sob muitas criticas e maus olhos do sistema psiquiátrico da época), ateliês de pintura e modelagem como terapia ocupacional. Fundou em 1952 o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, um centro de estudo e pesquisa destinado à pesquisa sobre esquizofrenia e pela preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de arte que criou na instituição. O Acervo do Museu abriga obras de Emygdio de Barros, Adelina Gomes, Carlos Pertuis e Octávio Inácio, seus pacientes. Dra. Nise também foi responsável pela introdução e divulgação da psicologia junguiana.
Não somente indicada para pacientes com complicações psíquicas mais sérias, a arteterapia é para todos, proporcionando aumento da capacidade de comunicação, exploração da imaginação e da criatividade, melhoria das habilidades físicas, memória, concentração e autoestima, identificação de preocupações no tratamento da ansiedade, exercício do pensamento crítico.
Portanto, além de uma terapia ocupacional, a arteterapia é uma possibilidade de mostrarmos ao mundo a genialidade que reside em nossas impressões do inconsciente.
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