A Bienal de São Paulo é muito mais do que uma grande exposição de arte. Ao longo de suas edições, ela se consolidou como um dos eventos culturais mais importantes do hemisfério sul e uma das bienais mais influentes do mundo. Mas sua trajetória vai muito além das obras expostas: a Bienal é, também, um retrato vivo das transformações sociais, políticas e culturais do Brasil nas últimas sete décadas.
A primeira Bienal de São Paulo foi realizada em 1951, idealizada pelo empresário e mecenas Ciccillo Matarazzo. Inspirado na Bienal de Veneza, ele queria criar um evento de arte internacional que colocasse o Brasil no mapa da cultura global.
Desde o início, a ambição era clara. A estreia contou com nomes como Pablo Picasso, Joan Miró e Alexander Calder, ao lado de artistas brasileiros. Era uma afirmação de que o Brasil não apenas consumia arte de fora, mas também tinha algo a mostrar ao mundo.
Com o passar do tempo, a Bienal deixou de ser apenas uma vitrine e se tornou palco de transformações estéticas e culturais. Nos anos 1960, em meio à efervescência política e cultural do período, artistas como Hélio Oiticica propuseram novas formas de interação com o público.
Sua obra Tropicália, de 1967, é um marco: um ambiente sensorial em que o visitante era convidado a entrar, pisar, sentir. Era a arte que saía da parede e invadia o corpo e os sentidos.
Em 1969, em plena ditadura militar no Brasil, a Bienal foi marcada por um gesto simbólico que atravessou a história: o boicote. Diversos artistas se recusaram a participar da exposição em protesto contra a repressão política. O resultado foi uma edição repleta de salas vazias.
Esses espaços silenciosos se tornaram, paradoxalmente, um manifesto visual. A ausência falava alto. Era a arte resistindo de forma sutil, mas potente.
Com a redemocratização nos anos 1980, a Bienal se expandiu novamente. Novas linguagens ganharam espaço: performances, instalações, videoarte, experiências imersivas. A arte passava a provocar reflexões e questionamentos, mais do que apenas exibir formas.
Ao longo dos anos 1990, no entanto, a Bienal enfrentou críticas e crises. Dificuldades financeiras, questionamentos sobre a estrutura curatorial e o modelo de exposição tradicional começaram a emergir.
Foi nos momentos de crise que a Bienal passou a se reinventar. A partir dos anos 2000, curadorias mais ousadas passaram a questionar o próprio papel da arte e do evento. A busca por descentralização trouxe para o centro artistas indígenas, negros, LGBTQIA+ e latino-americanos.
Temas como colonialismo, identidade, racismo, meio ambiente e gênero passaram a ocupar as discussões centrais. A Bienal não era mais apenas um evento de arte — tornava-se também um espaço de escuta, crítica e provocação.
As linguagens acompanharam esse movimento. Realidade virtual, arte sonora, audiovisual, inteligência artificial. A arte se transformava junto com o mundo — e a Bienal ia junto.
Hoje, a Bienal de São Paulo continua sendo um espaço relevante e necessário. Ela conecta o Brasil ao circuito global da arte, mas também reflete os conflitos, contradições e potências do país.
Mais do que mostrar obras, a Bienal provoca perguntas. Sobre quem somos, o que queremos ser e quais futuros podemos imaginar.
Enquanto essas perguntas permanecerem em aberto, a Bienal continuará sendo indispensável.
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